Dentro da caverna somos todos escravos, aprisionados pelas correntes das nossas limitações, ignorâncias, alienações... Permita-se libertar dessa babilônia de opressão e atingir o mundo intelígível lado a lado de platão.
18 de outubro de 2010
Compreendendo o Amor...
Havia duas crianças. Uma menina e um menino. A menina devia ter por volta de seis anos e o menino tinha sete. Ele estava brincando na areia do parque e a menina estava observando as borboletas que por ali voavam e encantavam com sua beleza e sincronia de suas cores vibrantes. Enquanto a menina acompanhava não só com os olhos as borboletas, ela acabou tropeçando no menino ali abaixado e destruindo seu projeto de castelo de areia. Ele ficou com raiva e ao mesmo tempo não sabia expressar o sentimento que tinha por ela. Então ele acabou gritando com ela e virou de costas para construir um novo castelo. A menina ficou olhando pra ele e se sentiu mal por ter destruído sua brincadeira. E sem ligar pra grosseria do garotinho, ela pegou e se abaixou ao lado dele para ajudá-lo a construir de novo outro castelo. Ele, sem saber o que fazer, parou de mexer na areia e ficou pensando por que a menina estava o ajudando depois dele ter gritado com ela. Ele não gostou da confusão que se formou na sua cabeçinha oca e a empurrou na areia. Ela parou por um instante e os dois se encararam por alguns segundos. Ele com uma cara de mal e ela com uma expressão serena. Ela entendeu tudo: ele gostava dela. Ela sorriu pra ele e ele a mostrou a língua, com isso ela teve certeza. Percebendo o mau jeito do menino com o sentimento que ele não entendia dentro dele, ela relevou e tentou ajudá-lo novamente. Portanto, ele mais uma vez, desajeitado com aquele sentimento se levantou zangado e foi brincar em outro lugar. Ela, por sua vez, não entendeu por que ele a tratava mau se gostava dela, ela também gostava dele e não o tratava mal... A menina percebeu que ele estava olhando pra ela de rabo de olho e então ela pegou uma borboleta e deu pra ele. O garoto chegou a conclusão de que quando a gente ama alguém muitas vezes não sabemos direito o melhor jeito de tratá-las, mas ele percebeu que quanto mais ela o tratava de um jeito oposto ao dele, mais ele gostava dela. Então ele concluiu que devemos tratar bem as pessoas que gostamos, assim elas só gostarão mais da gente. Devemos tratá-las do jeito que gostamos que elas nos tratem. Ele pegou a borboleta, a beijou e a devolveu para a menina e disse que a beleza da borboleta combinava mais com ela do que com ele.
15 de outubro de 2010
NEOQEAV
Primeiro eu gostaria de informar que esse texto é uma adaptação minha.
Meus avós já estavam casados há mais de cinqüenta anos e continuavam jogando um jogo que haviam iniciado quando começaram a namorar.
A regra do jogo era que um tinha que escrever a palavra "neoqeav" num lugar inesperado para o outro encontrar, quem a encontrasse deveria escrevê-la em outro lugar e assim sucessivamente.
Eles escreviam "neoqeav" com os dedos no açúcar dentro do açucareiro ou no pote de farinha para que o próximo que fosse cozinhar a achasse. Escreviam na janela embaçada pelo sereno que dava para o pátio onde minha avó nos dava pudim que ela fazia com tanto carinho. "Neoqeav" era escrita no vapor deixado no espelho depois de um banho quente, onde a palavra iria reaparecer depois do próximo banho... Cada idéia superava a outra... Uma vez, minha avó até desenrolou um rolo inteiro de papel higiênico para deixar "neoqeav" na última folha e enrolou tudo de novo.
Não havia limites para onde "Neoqeav" pudesse surgir. Pedacinhos de papel com "Neoqeav" rabiscado apareciam grudados no volante do carro que eles dividiam. Os bilhetes eram enfiados dentro dos sapatos e deixados debaixo dos travesseiros. "Neoqeav" era escrita com os dedos na poeira sobre as prateleiras e nas cinzas da lareira. Esta misteriosa palavra tanto fazia parte da casa de meus avós quanto da mobília. Levou bastante tempo para eu passar a entender e gostar completamente deste jogo que eles jogavam. Meu ceticismo nunca me deixou acreditar em um único e verdadeiro amor, que possa ser realmente puro e duradouro. Porém, eu nunca duvidei do amor entre meus avós. Este era profundo. Era mais do que um jogo de diversão, era um modo de vida.
Seu relacionamento era baseado em devoção e uma afeição apaixonada, igual as quais nem todo mundo tem a sorte de experimentar. O vovô e a vovó ficavam de mãos dadas sempre que podiam. Roubavam beijos um do outro sempre que se esbarravam naquela cozinha tão pequena. Eles conseguiam terminar a frase incompleta do outro e todo dia resolviam juntos as palavras cruzadas do jornal. Minha avó cochichava para mim dizendo o quanto meu avô era bonito, como ele havia se tornado um velho charmoso. E ela se gabava de dizer que sabia como pegar os namorados mais bonitos.
Antes de cada refeição eles se reverenciavam e davam graças a Deus e bençãos aos presentes por sermos uma família maravilhosa, para continuarmos sempre unidos e com boa sorte.
Mas uma nuvem escura surgiu na vida de meus avós: minha avó tinha câncer de mama. A doença tinha primeiro aparecido dez anos antes.
Como sempre, vovô estava com ela a cada momento.
Ele a confortava no quarto amarelo deles, que ele havia pintado dessa cor para que ela ficasse sempre rodeada da luz do sol, mesmo quando ela não tivesse forças para sair.
O câncer agora estava de novo atacando seu corpo.
Com a ajuda de uma bengala e a mão firme do meu avô, eles iam à igreja toda manhã, mas minha avó foi ficando cada vez mais fraca, até que, finalmente, ela não mais podia sair de casa. Por algum tempo, meu avô resolveu ir à igreja sozinho, rezando a Deus para zelar por sua esposa. Então, o que todos nós temíamos aconteceu.
Vovó partiu.
"Neoqeav"foi gravada em amarelo nas fitas cor-de-rosa dos buquês de flores do funeral da vovó.
Quando os amigos começaram a ir embora, minhas tias, tios, primos e outras pessoas da família se juntaram e ficaram ao redor da vovó pela última vez. Depois de finalizar suas orações cada um foi saindo até que meu avô foi o único que ficou bem junto do caixão da vovó e, num suspiro bem profundo, começou a cantar para ela.
Através de suas lágrimas e pesar, a música surgiu como uma canção de ninar que vinha bem de dentro de seu ser. Me sentindo muito triste, nunca vou me esquecer daquele momento. Porque eu sabia que mesmo sem ainda poder entender completamente a profundeza daquele amor, eu tinha tido o privilégio de testemunhar a beleza sem igual que aquilo representava.
Quando chegamos em casa meu avô foi ao banheiro e foi tomar seu banho pra deitar, e quando saiu do chuveiro viu no espelho o "neoqeav" que minha avó havia escrito, e havia surgido novamente com o vapor do banho do vovô. E foi o que lhe deu forças para ele Nunca Esquecer O Quanto Eu (a vovó) Amo Você.
Nunca Esqueça O Quanto Eu Amo Você = "NEOQEAV"
Meus avós já estavam casados há mais de cinqüenta anos e continuavam jogando um jogo que haviam iniciado quando começaram a namorar.
A regra do jogo era que um tinha que escrever a palavra "neoqeav" num lugar inesperado para o outro encontrar, quem a encontrasse deveria escrevê-la em outro lugar e assim sucessivamente.
Eles escreviam "neoqeav" com os dedos no açúcar dentro do açucareiro ou no pote de farinha para que o próximo que fosse cozinhar a achasse. Escreviam na janela embaçada pelo sereno que dava para o pátio onde minha avó nos dava pudim que ela fazia com tanto carinho. "Neoqeav" era escrita no vapor deixado no espelho depois de um banho quente, onde a palavra iria reaparecer depois do próximo banho... Cada idéia superava a outra... Uma vez, minha avó até desenrolou um rolo inteiro de papel higiênico para deixar "neoqeav" na última folha e enrolou tudo de novo.
Não havia limites para onde "Neoqeav" pudesse surgir. Pedacinhos de papel com "Neoqeav" rabiscado apareciam grudados no volante do carro que eles dividiam. Os bilhetes eram enfiados dentro dos sapatos e deixados debaixo dos travesseiros. "Neoqeav" era escrita com os dedos na poeira sobre as prateleiras e nas cinzas da lareira. Esta misteriosa palavra tanto fazia parte da casa de meus avós quanto da mobília. Levou bastante tempo para eu passar a entender e gostar completamente deste jogo que eles jogavam. Meu ceticismo nunca me deixou acreditar em um único e verdadeiro amor, que possa ser realmente puro e duradouro. Porém, eu nunca duvidei do amor entre meus avós. Este era profundo. Era mais do que um jogo de diversão, era um modo de vida.
Seu relacionamento era baseado em devoção e uma afeição apaixonada, igual as quais nem todo mundo tem a sorte de experimentar. O vovô e a vovó ficavam de mãos dadas sempre que podiam. Roubavam beijos um do outro sempre que se esbarravam naquela cozinha tão pequena. Eles conseguiam terminar a frase incompleta do outro e todo dia resolviam juntos as palavras cruzadas do jornal. Minha avó cochichava para mim dizendo o quanto meu avô era bonito, como ele havia se tornado um velho charmoso. E ela se gabava de dizer que sabia como pegar os namorados mais bonitos.
Antes de cada refeição eles se reverenciavam e davam graças a Deus e bençãos aos presentes por sermos uma família maravilhosa, para continuarmos sempre unidos e com boa sorte.
Mas uma nuvem escura surgiu na vida de meus avós: minha avó tinha câncer de mama. A doença tinha primeiro aparecido dez anos antes.
Como sempre, vovô estava com ela a cada momento.
Ele a confortava no quarto amarelo deles, que ele havia pintado dessa cor para que ela ficasse sempre rodeada da luz do sol, mesmo quando ela não tivesse forças para sair.
O câncer agora estava de novo atacando seu corpo.
Com a ajuda de uma bengala e a mão firme do meu avô, eles iam à igreja toda manhã, mas minha avó foi ficando cada vez mais fraca, até que, finalmente, ela não mais podia sair de casa. Por algum tempo, meu avô resolveu ir à igreja sozinho, rezando a Deus para zelar por sua esposa. Então, o que todos nós temíamos aconteceu.
Vovó partiu.
"Neoqeav"foi gravada em amarelo nas fitas cor-de-rosa dos buquês de flores do funeral da vovó.
Quando os amigos começaram a ir embora, minhas tias, tios, primos e outras pessoas da família se juntaram e ficaram ao redor da vovó pela última vez. Depois de finalizar suas orações cada um foi saindo até que meu avô foi o único que ficou bem junto do caixão da vovó e, num suspiro bem profundo, começou a cantar para ela.
Através de suas lágrimas e pesar, a música surgiu como uma canção de ninar que vinha bem de dentro de seu ser. Me sentindo muito triste, nunca vou me esquecer daquele momento. Porque eu sabia que mesmo sem ainda poder entender completamente a profundeza daquele amor, eu tinha tido o privilégio de testemunhar a beleza sem igual que aquilo representava.
Quando chegamos em casa meu avô foi ao banheiro e foi tomar seu banho pra deitar, e quando saiu do chuveiro viu no espelho o "neoqeav" que minha avó havia escrito, e havia surgido novamente com o vapor do banho do vovô. E foi o que lhe deu forças para ele Nunca Esquecer O Quanto Eu (a vovó) Amo Você.
Nunca Esqueça O Quanto Eu Amo Você = "NEOQEAV"
10 de outubro de 2010
Uma menina...
Naquela janela mora uma menina repleta de sonhos e anseios. Sempre a vejo olhando pela janela a observar o mundo e a imaginar as oportunidades. Eu olho pra ela e imagino o que se passa em sua cabeça. O que ela pensa enquanto está admirando seja lá o que for. Só vejo seus olhos brilharem fazendo parecer que estão criando poesias e prosas sobre o que ela nem conhece. Eu a admiro, a invejo de uma certa forma. Mas não é uma inveja ruim, é uma forma de admirar, só que de um jeito diferente, já que eu nem sei quem ela é, nem a conheço, o que eu sei dela é apenas uma fantasia. Criei uma menina que sonha um dia poder viajar pelo mundo, que tem como ídolos pessoas que foram recriminadas pela sociedade por terem uma visão diferenciada e mais ampla pra época em que viveram. A personagem que eu criei é uma adolescente, ela é bonita e quer mudar o mundo. Ela é uma adolescente comum, como ela quer. Porém, as vezes, ela se sente como se ela não quisesse ser comum. Quisesse ser madura e bem resolvida. Ela parece querer ter uma opinião própria sobre tudo, mas ao mesmo tempo não quer ter opinião sobre nada. Ela se encaixa àquele trecho da música do Raul Seixas e prefere ser uma metamorfose ambulante do que ter uma velha opinião formada sobre tudo. Ela quer se vestir igual às outras meninas da sua idade, mas ao mesmo tempo não quer ser confundida na multidão. Quem é essa menina que tanto quer, que nem sabe o que pode ter? Ela quer andar pelo mundo concertando tudo de errado que for vendo pelo caminho. Quer ser uma pessoa querida pelos mais queridos. Quer inteligência e a admiração dos admirados. Ela quer viver um amor de Shakespeare e ter um oceano de experiências de vida e histórias pra contar. Quer abraçar o mundo e suas causas. Quer ser lembrada pelo que fez, cobiçada pelos homens, invejada pelas mulheres, causar polêmica e salvar tudo o que há para ser salvo. Ela quer ser tudo. Mas na verdade é só uma menina que eu nem conheço e talvez, inconscientemente, a minha ilusão sobre ela, seja o que eu sou mas nunca soube definir.
9 de outubro de 2010
"in you I couldn't be strong"
E então ela entrou no salão. Carregava consigo uma carga pesada e um olhar de quem está perdida e machucada. Seus olhares se encontraram e ele tinha uma expressão de quem estava esperando por alguma coisa, algum movimento de fraqueza ou de coragem. Esperando por algo dela, esperando o perdão, torcendo para que ela se rendesse à tentação, à paixão, mas ao mesmo tempo, enquanto ele acompanhava cada movimento dela, seu coração ia se encolhendo dentro dele, a esperança ia indo embora devagar, calmamente, parecia que alguém estava o desmontando como se ele não servisse mais, e guardando as partes restantes dentro de uma caixa que não se abriria nunca mais. Ele lutou tanto contra àquele amor, e quando finalmente admitiu e se entregou ao sentimento, ele sentiu estranhas borboletas em seu estômago, sentiu-se tão vulnerável e ao mesmo tempo tão vibrante mesmo achando que não tinha nascido para receber o amor de alguém, e que ele não era bom o suficiente para ela, mas mesmo assim se entregou aquele sentimento tão estranho pra ele. E ela, que por sua vez, sempre seguiu com tanta rigidez as regras impostas pela sociedade e se mostrou durona e forte perante a todos, se humilhou tantas vezes só para que conseguisse o tão esperado "eu te amo" dele. Tudo estava indo certo, parecia que os dois finalmente teriam o final feliz merecido, mas duas pessoas tão sádicas e crueis talvez não merecessem estar tão felizes. Ou talvez só merecessem estar felizes se fosse juntos, porque os dois se mereciam e precisavam um do outro. Mas parece que o destino não colaborou muito, ou então eles não conseguiriam mesmo fazer aquela maturidade render e aquele amor não poderia falar mais alto que suas origens maléficas por muito tempo, e de repente o amor não era mais incondicional, talvez até fosse, mas ela não aceitava mais que fosse. E ela lutava contra aquele sentimento com todas as suas forças, sabia que não era o suficiente, mas ela não gostava da pessoa que ela se tornou junto a ele. Ela sabia que aquela era ela, mas ela fugia da realidade ferozmente, e isso poderia ser um ato de amadurecimento, ela não queria regredir. Não queria ser fraca. Apesar dele ter aceitado ser "fraco" para admitir o amor por ela.
Seus olhares continuavam a se encarar, e uma lágrima escorreu por seu delicado rosto. Era o retrato de seu coração. Ele havia quebrado seu frágil coração e ela não podia aceitar aquilo.
Ela tomou a iniciativa de desviar-lhe o olhar, hesitou por um instante, parecia que ele ia fazer algo pra que aquilo não acontecesse, ele sabia que eles não teriam outra chance. Mas pra ela, eles já não tinham mais. Ela se virou e ficou parada por alguns segundos, pedindo, gritando calada para que ele fosse atrás dela. Ela olhou pra trás para ver se ele continuava parado, e sim, lá estava ele, mais uma vez se acovardando. Basta. Ela foi embora, e dessa vez foi pra sempre.
Seus olhares continuavam a se encarar, e uma lágrima escorreu por seu delicado rosto. Era o retrato de seu coração. Ele havia quebrado seu frágil coração e ela não podia aceitar aquilo.
Ela tomou a iniciativa de desviar-lhe o olhar, hesitou por um instante, parecia que ele ia fazer algo pra que aquilo não acontecesse, ele sabia que eles não teriam outra chance. Mas pra ela, eles já não tinham mais. Ela se virou e ficou parada por alguns segundos, pedindo, gritando calada para que ele fosse atrás dela. Ela olhou pra trás para ver se ele continuava parado, e sim, lá estava ele, mais uma vez se acovardando. Basta. Ela foi embora, e dessa vez foi pra sempre.
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